quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

"E a duração do lírio fora um hálito"


Confiança, a essência e o sumo dessa palavra preenchem pelo menos noventa por cento dos meus poros desde que me entendo por gente. Nas conversas eternas com meu irmão, eu sempre falava da certeza de que tudo ia dar certo e de como as pessoas à nossa volta estavam sempre tramando alguma coisa para me fazer mais e mais feliz. A primeira vez que me lembro de me sentir mais vulnerável tem a data do nascimento de minha irmã, doze anos mais nova que eu. A paixão incondicional por aquela pessoa minúscula e absolutamente frágil me fez ver de forma muito clara (como nunca tinha visto antes) os espinhos e arestas do mundo inteiro. As rochas que serviam de lastro para minha anti-paranóia continuavam razoavelmente firmes. Mas nada seria como antes, nunca mais. Lembro que, nessa época, passou a ocupar a minha agenda uma preocupação extrema com o cuidar-da-delicadeza-de-todas-as-coisas. Preocupação que fica bastante hipertrofiada com uma tragédia que mata mais de duzentas pessoas (a maioria delas tão jovens) num piscar de olhos.
Existe, é claro, uma parcela considerável do meu espírito que insiste em permanecer com catorze, quinze anos no máximo, e que, mesmo agora, me faz ouvir suas perguntas: Será então que vamos ter que virar todos nós vovozinhas servindo sopas e caldos quentes? Não vê que a vida flui incontestável por qualquer artéria que se preze? Não vê que é assim mesmo? Que “viver é muito perigoso”?
Percebo que não sei preencher esse questionário. Mergulhei de cabeça no mar de dúvidas e voltei de mãos vazias. Cuspi muita água e muito sal e nenhuma resposta...

Um gole de chumbo
Desenho digital feito com o programa MyPaint