terça-feira, 7 de maio de 2013

Fractal


A alegria de encontrar uma palavra nova... de um lado, tenho um ego-que-se-acha--físico-cientista que entende que essa é mais uma peça que pode ajudar na árdua tarefa de explicar o mundo. Por outro, o ego-que-queria-ser-artista-poeta espera que ela possa ser mais uma aliada na hora de desconstruir tudo. De qualquer modo, foi muito muito cedo que a convivência desses dois (três, quatro, n) egos (por uma dádiva, não sei...) se tornou pacífica, de uma vez e pra sempre. Com o tempo, no entanto, percebi que essa paz não era partilhada nos corações e mentes de meus companheiros de aventuras. A cada bifurcação que encontrava pelo caminho, sentia o meu batimento acelerado pelo júbilo de mais uma oportunidade de me dividir. Aí eu olhava pro lado e via a rapaziada toda suando de nervoso. Começava a ouvir aquele papo de agora tem que escolher se vai pra lá ou pra cá, ou não dá pra ficar em cima do muro! Então eu arriscava que muro? Tem muro não, olha só. Dá pra ir pelos dois...A turma me olhava, fazia um silêncio de uns dois segundos em respeito à nossa amizade e recomeçava a discussão, vambora, é pra que lado??
Às vezes penso que essa 'dádiva' possa ser vista como uma limitação e me imagino num mundo onde a maioria das pessoas é feita com bloquinhos de Lego e eu fui construído com bolinhas de gude. Que talvez isso tenha me impedido, e me impeça eternamente, de ser um ponta-de-lança, de ser aquele que crê tanto na própria trajetória, que é capaz de derrubar paredes e inaugurar novos mundos. E isso me deixa um pouco cismado, porque muitos dos ídolos da minha infância e de sempre eram pontas-de-lança. Mas...
Bom, acabei pulando esse parágrafo por dois motivos: primeiro porque acho legal largar essas divagações assim, pelo meio; e segundo porque acabei de ver que essa postagem, com o texto e o desenho e tudo, ficou sendo uma continuação da anterior. E eu não tinha planejado nada disso. Quando resolvi repersonificar o príncipe da dúvida, nem passei perto de perceber a correlação com um desenho de trinta e dois anos atrás...
O ego-numerólogo começou logo a fazer contas. Aquele desenho eu fiz com dezesseis anos, esse eu fiz com dezesseis mais dezesseis mais dezesseis...E aí começa 'o que será que eu desenhei há dezesseis anos atrás? Ou o que vou desenhar daqui a sessenta e quatro anos?'...

Hamlet
Desenho digital feito no MyPaint