domingo, 28 de dezembro de 2014

Só a resposta a caneta

Seis da matina quando chegamos à rodoviária de São Sebastião, depois de sete horas de viagem. Tempo feio e eu com uma gripe miserável. Faltava pegar um táxi pra Maresias, que era lá que ia acontecer o XV EPEF, Encontro de Pesquisa em Ensino de Física.
Bom dia! Leva a gente pra Maresias? O taxista, um senhor que parecia ser feito de um material um pouco mais denso do que o indicado para seres humanos, respondeu com sotaque nordestino “à vontade, pode entrar...a corrida sai por oitenta reais”.
Droga! Tinham me falado que daria cinquenta no máximo. Senti um desconforto com a possibilidade de alguma pilantragem. Ter que ficar atento a essas pequenas disputas era a última coisa que queria naquele momento. Preferi então acreditar em uma explicação inflacionária, para poder voltar ao meu estado habitual e tratar o motorista como um bom e honesto camarada. Relaxei e comecei a aproveitar a paisagem, esquecer a febre e o mal estar. Larguei os pensamentos. O ano, o mais complicado da minha vida, estava chegando ao fim e marcava duas ideias bem claras e distintas na minha cabeça. A primeira, exagerada pela virose, uma vontade desmedida de voltar a ter um lugar confortável pra ser e estar. A segunda, mantida sempre acesa ao custo da dedicação do conhecimento, a atenção cuidadosa com tudo que possa esbarrar em meus sentidos (viver e sentir de olhos abertos...olhos abertos).

“...era um avião particular, tinha caído há anos. Só acharam os pedaços agora, outro dia...” A voz ao meu lado me trouxe de volta à estrada (ouvidos abertos também!). Falava de um monomotor (?) que batera na escosta do morro que passava por nós...pausa e ...Fim. Voltei pro lado de dentro, não deixando de mirar o céu de nuvens pesadas. Tentava, sem sucesso, recuperar, nem que fosse só de lembrança, a alegria imensa que sentira em outras chegadas, a outros destinos, em outros tempos.
A entonação alagoana (essa origem geográfica tinha sido revelada algumas curvas atrás) voltou a reverberar “...sim senhor, tenho trinta e seis filhos!”
Sério mesmo? Trinta e seis?!
“Por certo!”
Vixe!!! Eu, com uma só, não dou conta!
“...com seis mulheres!”
Caramba!
“Com duas eu casei, com outras quatro só fui amasiado...”
Nossamãe!
“...pois tenho setenta e quatro anos e muita disposição!”
Puxa!
“e trabalho no táxi doze horas por dia, pelo menos!”
Parecia que ia desafiar todos os recordes, mas falava sem exagerar orgulhos e arrogâncias. E não tinha nada de confessional, era como um relatório de atividades e resultados para algum CNPq da vida.
Seguimos com aquela prosa contábil cheia de temperos que, mesmo agora, não sei identificar. Quando estacionou na porta do hotel, recebeu os oitenta reais com uma postura que deve ser comum em um mundo sem espaço para dúvidas e incertezas. 

Apertou nossas mãos vigorosamente como quem diz “Coragem! Já vivi as histórias todas, muitas vezes! É assim mesmo! É só seguir em frente...”

Reflexões II
ou
Por um painosso e dez avemarias

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Para Marise, com amor e sordidez

O que eu aprendi foi mais ou menos assim, você cresce, encontra uma pessoa especial que gosta de você e vice versa. Aí, juntos, constroem uma casa, uma família, uma vida, enfim.
Que droga! Não quero ficar aqui fazendo papel de idiota romântico, mas, caramba!, passei quarenta e poucos anos da minha existência convivendo quase que diariamente com um casal irremediavelmente apaixonado, até o último suspiro consciente do meu pai: quando entrou na UTI (da qual não sairia mais com vida) pediu para o maqueiro retornar um pouquinho até a porta, olhou pra minha mãe e disse com o que lhe restava de voz “eu te amo”. Depois de aprender que sempre veria os dois de mãos dadas, andando, vendo televisão ou sentados à mesa, ainda presenciei essa cena que, eu acho, vai ser eternamente a minha definição de amor. Tendo testemunhado essas e outras milhares de preciosidades, não havia muita chance mesmo de ser uma pessoa normal.
Vi e convivi com muitas e muitas outras duplas e parcerias que não carregavam esse exagero quase fantasioso, mas não o suficiente pra consertar minha visão de relacionamentos.

A imagem que lhes entrego agora foi a pintura que mais me deu trabalho nessa vida. Nela eu fiz um enorme esforço pra enxergar além do universo de carinho infinito que me construiu na infância, adolescência e boa parte da idade adulta. Tentei misturar um pouco mais de ego e sordidez ao amálgama que eu vi insistentemente se desenhando perto da perfeição. Coloquei um pouco de mim, dos espinhos que já vieram comigo, mas mantive a esperança de preservar a beleza das cores que me aquecem em qualquer noite de inverno.

Projetista
Óleo sobre Tela
90 x 110 cm

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

"After many a summer"

Nunca, nesses anos todos que já somam quase cinquenta, experimentei qualquer estado de espírito que me fizesse sentir longe da minha juventude (às vezes, tenho dificuldade em acreditar que não estou ainda no final da adolescência). Mas, outro dia, com minha imagem no espelho, vieram as palavras “Esses óculos e esse cabelo me mostram mais gasto e fora do tempo”. Assim que o pensamento se espalhou pelos meus olhos, entendi que se tratava de um sentimento inédito, uma novidade. Não que eu nunca tivesse percebido o relógio andando, claro que eu percebi. Não sou tão doido. Mas a noção plena e profunda de que a entropia vai me embalando por caminhos que parecem inevitáveis não tinha sorrido com tal clareza, a ponto de fazer a saliva mudar de gosto.
Na mesma hora subiu uma palpitação-fibrilativa-taquicárdica num sobressalto de urgência: “Cara! Levanta, carrega a vida e vai! Corre!”.
Tudo bem que prática de ficar impassível diante do meu reflexo me impediu de surtar. Só que dessa vez não dava pra guardar o pulso em nenhum esconderijo, tive que começar um movimento. De verdade!
Sim, eu passei um bocado de tempo alimentando minhas paixões com Lexotan. ®. Tanto é, que não tenho ainda o timing pra mergulhar de cabeça, do jeito que o desejo exige. E, sim, foi preciso levar um tombo feio pra caramba para a letargia, sempre tão presente, ir escorrendo por aí, a ponto de agora só conseguir perceber dela alguns vestígios. Mas o fato é que saltei para um plano vital que tinha ficado fora da mira por uma eternidade. Que legal!
Pois então, é assim: pintar, voar, estudar física e filosofia e arte para entender o mundo, ensinar, desenhar e fazer poesia com isso tudo! Está quase difícil não sair atropelando os passos feito louco...
É bom à beça ver que estou próximo de ter que pedir “paciência!” (alguma, pelo menos) pra não derrapar em demasia
e vâmo que vâmo!!


Autoavaliação

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Transformações de Galileu


Andar é muito simples: um pé sai do chão, avança um pouco até encontrar apoio, o corpo vem pra frente e daí é a vez do outro pé entrar na jogada e assim por diante. Ninguém precisa de tutorial pra isso e qualquer criancinha com um ano, ou um pouco mais, tira de letra. O problema, problemão mesmo, aparece quando o cabra começa a perguntar, assim de repente, pra onde vai apontar os passos. Ou pior ainda, acha de inquirir “pra que partir?”.
Sei, sei, sei...todo dia fazemos essas perguntas e não tem nenhum drama nisso, mas é porque nesse caso, que fica na normalidade, a gente faz a pergunta já sabendo um tantão da resposta. Perguntamos mais por perguntar, pra encher o tempo com assunto, mas, lá dentro, o coração (ou o estômago, ou algum desses órgãos dos quereres) já está impaciente apontando prum lado há séculos.
Então, essa inércia extrema e desnorteada (a que não enche o tempo com nada, só esvazia), ocupada em soterrar desejos e cimentar pensamentos, me levou o foco e a alegria por um curto (mas pesadíssimo) período de um raio de uma crise depressiva.
Uma das medicinas-terapêuticas que tentei consistia em buscar histórias, narrativas e cenários em que o movimento fosse um personagem central. Queria ensaiar uma inspiração pro meu ímpeto descongelar e se anunciar de uma vez.
Nessa pesquisa, dois achados:

i) A “Viagem Filosófica” e o reencontro com os belíssimos desenhos que formam o registro iconográfico da aventura fantástica patrocinada pelo governo português com a intenção de desvendar um pouco do mundo de mistérios ocultos nas matas brasileiras. A expedição teve início em 1783 e durou nove anos colhendo informações sobre a fauna, a flora e os habitantes da região amazônica, percorrendo e inventando quarenta mil quilômetros de caminhos.

ii) A praia usada como pista de corrida. Não só pela maravilha que é ver a água imensa e inquieta enquanto vão ficando as pegadas que provam e atestam a decisão e o rumo, mas também pelo poder purgante-de-toda-desgraça que as ondas têm. O chão, menos que sólido, exige esforço e transforma o trajeto em tarefa, mas oferece presentes que servem para registrar (a exemplo dos desenhos da Expedição Filosófica aí de cima) a cisma de ir e ir mais. Foi assim com um caco de vidro que recolhi outro dia, privado das arestas e do brilho, tornado arredondado pelos grãos e pela água de sal. Continuava belo, verde e translúcido, mas inofensivo.

Antes de terminar a conversa, quero confessar que me incomodou essa palavra “inofensivo”, pois gosto de pensar que meu lugar é mesmo o fio da navalha, é lá que me sinto vivo.
Mas tudo bem, cautela agora: fortalecer a musculatura e correr e correr, até poder voar sem tanto risco de morrer na próxima queda...

Stopmotion


sexta-feira, 18 de julho de 2014

Ultrasonografia - parte II

Daqui a pouco, vai ficar tudo na terceira pessoa porque tive que sair, me ver de fora, para traçar (ia escrever “entender”, mas seria exagero) pelo menos uma parte do que estava acontecendo. Achei justo, portanto, narrar a história desse jeito, estrangeiro de mim mesmo.

O sujeito, o personagem, o ser vivente em torno do qual se aglomeram as palavras desse texto está andando numa estrada reta. Não pergunta se gosta do caminho nem duvida dele. Segue em frente. A crise, que vai dar algum sabor ao percurso, está prestes a saltar nas suas costas, mas ele não sabe ou, se sabe, guardou o conhecimento em algum canto escuro sem revelar nada aos olhos ou aos pés.
Assim, quando o turbilhão o alcança, faz uma festa com o pobre. Nem sinal da estrada reta, pior, pés e chão viram conceitos vazios de sentido. Flutuar, quando possível, e engolir a água de todos os afogados são as ações do momento. O controle dos nervos e tendões fica esquecido e o homem só se dá conta de que estava se debatendo como louco quando nota um cansaço insuportável em cada um de seus músculos.
Desespero pra subir, emergir, voar e poder pousar de novo no velho e conhecido trajeto.
Concentrando todos os esforços, ele consegue eventualmente alguns breves instantes de contato com o ar. Nessas horas respira com o desejo dos sobreviventes. No entanto, fica claro que as últimas doses de energia estão no fim. E a existência de terra firme surge como uma memória do passado distante que pertencia a outra pessoa.
Não é a inteligência e nem a sabedoria quem traz um rumo, uma solução. Por total falta de opções, ele escolhe o único destino que sobrou: o fundo. Vai até onde não pode mais, fecha os olhos e pensa “agora ou vai ou...” e abre as narinas e a boca inspirando tudo que é possível. E, milagrosamente, apaga.
Uma eternidade depois, abre os olhos e vê diversos rostos familiares, amigos. Todos aflitos com uma espera, que parecia não ter fim, pelo retorno dele. Sorriem aliviados e juntos.
Levanta (só então percebe que estivera deitado) encarando os rostos com ternura. Olha o céu e os horizontes com a exata noção de que não tem a menor ideia de onde está e nem para onde vai.

Leve e surpreso, descobre que o sorriso continua na face e principalmente na alma, lugar de que nunca devia ter mesmo saído.

Segunda Lição de Anatomia

terça-feira, 15 de julho de 2014

Os assentos de cor laranja...


Sempre que tenho que qualificar, hieraquizar, julgar valor ou estabelecer limites mínimos, eu me embanano de verdade. Deve ser porque, pra ser bem honesto, não acredito nesse negócio. O que eu sei é que muitas e muitas vezes consegui desviar desse dilema com uma resposta que me pareceu clara e sedutora: “A avaliação é necessária e nada seria construído sem ela”. Mas tem algo aí que não desce. Algo relacionado com um tal de um verbo merecer. 
Veja bem, não sou nenhum tapado, e está claro pra mim que existem situações em que há mérito no mérito. Só para citar um mundo familiar, a exigência de que se admitissem apenas funcionários por concurso (um mecanismo avaliador de merecimento), fez um bem enorme às instituições públicas. Vitória da meritocracia sobre a bagunça geral que reinava antigamente, trazendo alguma ordem ao caos. Pegando esse rumo, fica parecendo mesmo certo que se levarmos essa ideia até as ultimas consequências os resultados só podem ser excepcionais, fazendo o céu na terra e construindo a utopia de verdade. Mas é claro que todo leitor, que ainda se mantêm fiel e desperto nesse ponto do texto, vai bradar em alto e bom som: “Péraí!! a gente já tá cansado de saber que o céu de uns pode muito bem ser o inferno de outros, e... utopia?? Utopia de quem?”
É justo nesse momento que eu bato com a cara na parede. E já bati tantas vezes que até esqueci qual seria o MEU céu na terra. Se pra mim não é claro, imagine quando perguntar pra todo mundo...
Nas caixas da memória tem, por exemplo, uma cena que ainda me arrepia: Uma corredora na maratona de uma olimpíada, ou algo que o valha, se aproximando da linha de chegada, andando toda torta. O controle motor já tinha ido pras cucuias há muito tempo e a mulher, pra lá de estropiada, se negando a receber qualquer ajuda até terminar a droga da prova. A enorme beleza que eu via nesse momento não se dissipou completamente (e sim, estou arrepiado agora), mas me pergunto se, de fato, encontrar tanta preciosidade numa atitude dessas não está no fundo no fundo relacionado ao embrião de uma cultura que traz um bocado de miséria e infelicidade. Temo que tenhamos enfrentado a escassez (da riqueza, da energia, das ideias brilhantes, da competência) por muito tempo, tempo demais... acostumamos com o desespero pela FALTA, e esse costume , quem sabe, nos impeça de ver (ou exigir) o fim dela. Como se um inconsciente coletivo qualquer nos fizesse crer que sempre vamos ter de aguentar uma boa dose de miséria.
Será que não é por isso que exageramos de maneira desmedida a valorização do ponto fora da curva? 
Passamos a ver aqueles que esbanjam talento, beleza, ou alguma outra coisa notável, como uma espécie de herói.
Claro, é belo e sublime esbarrar com algém que é super-hiper-fantasticamente bom em alguma coisa, alguém capaz de fazer maravilhas com as palavras ou com a música ou com as ideias ou com uma bola ou com o próprio corpo... e ficamos tão maravilhados que não vemos que todas essas coisas são brincadeiras que inventamos e que trazem, sim, cores e felicidade para a aspereza do mundo. Mas são só isso!!! 
E quem não tem um talento especial em alguma dessas coisas que o clube da humanidade valoriza?... é obrigado a dar tudo de si pra tentar e tentar e tentar...? 
O que?
Essa pergunta estava martelando na cabeça do Sérgio de trinta anos atrás. E foi ele que pegou tudo e transformou nesses traços e tintas aí:

  
 Pallas Atena
Lápis e Aquarela sobre papel


segunda-feira, 30 de junho de 2014

“Tudo é feito de átomos”


Esta foi uma das primeiras frases que li e significou uma revelação fantástica, ocupando lugar de destaque no meu conjunto de eventos importantíssimos. Sabe aqueles fatos que marcam uma quebra, uma mudança de tudo? Você era um antes dele e ficou outro, bem diferente, depois. Então, foi assim, ganhei poderes de enxergar estruturas que quase ninguém mais via. Estava entendendo o mundo e era capaz de reconstruir qualquer coisa, na minha cabeça, com aqueles tijolinhos fantásticos, os Átomos.
Pois é, o tempo continuou girando as rodas e as mentes e aconteceu que, muitos e muitos passos depois, Shakespeare me conduziu a uma nova guinada: “somos feitos da mesma matéria dos sonhos”. Pronto! um Tsunami poderosíssimo que não deixou próton sobre próton e chegou justamente quando eu começava a sentir a frustração de não ter conseguido jamais encontrar a fórmula molecular da paixão, ou do riso, ou da surpresa. Muitas das engrenagens que erguiam, sustentavam e construíam meu universo desmantelaram e receberam um revestimento de intenções, desejos e de mágica. Novo cenário, novo eu - tudo é feito com os átomos que nós sonhamos!
As rodas persistiam girando e girando (é sempre assim?) e o descompasso entre pulso e pensamento transbordou: escrevi uma peça, interrompi o mestrado em física, fui ser pintor.
Principiou um vai e vem sem fim de tintas e quarks, poesia e leptons, com voltas, voltas e mais voltas e eis que estou, nesse tempo que acontece agora, um professor (mais comum do que deveria) diante de uma turma com trinta alunos, falando de estrutura da matéria: “tudo é feito de...” lá ia eu, seguindo o trilho, repetindo tudo que se repete, sem deixar nem um dedinho de prosa pro bardo inglês.
Ôpa, ôpa, ôpa! pópará!
Pisa rápido num freio qualquer!
Ou então acelera esse trem pra fora da estrada e tira o cinto de segurança!
Ah, e trinca os dentes...que o mergulho vem chegando, ô se vem!


Dropbox

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Sempreensão


Muitas vezes já vi artistas, escritores e músicos falando de sua formação e, num certo ponto da história, contam da época em que eram crianças, e que suas casas eram povoadas ou visitadas por gente super importante do meio e vêm coisas do tipo “via meu pai tocando com o Chico e o Caetano” ou “o Drummond lia poesia pra mim toda vez que passava lá em casa pra um cafezinho”. E aí fica bem clara a enorme importância que essa convivência teve para as escolhas e caminhos seguidos na vida deles e tudo mais.
Na minha infância, nunca cheguei perto de ninguém que fosse influente no mundo da cultura, da ciência ou de qualquer coisa desse tipo. Mas tive algo semelhante a isso...nas reuniões de família que aconteciam na casa da minha bisavó Anna (Nica) Sgarbi. Naqueles dias que pra mim eram pra lá de especiais, os almoços eram festas de delícias inesquecíveis, mas o que vinha depois ...ah, isso sim é que fazia meu tempo ficar e ser: alguns tios e primos de segundo grau iam pra varanda e ficavam conversando sobre coisas e mais coisas estrangeiras ao meu mundo de dez-onze anos de idade. Falavam de política, assunto perigoso para aquelas datas, de cinema, literatura, música. E eu sorvia cada palavra tão quieto e atento como é possível alguém ficar. E, sim, vejo diversos fragmentos de frases e ideias recolhidas naquela varanda que estão pendurados em mim, aqui e ali, até hoje. E seriam eles que estariam no meu depoimento, se algum dia eu tivesse que fazê-lo aos moldes dos que citei lá no começo.
Eis (finalmente!) o que queria dizer: que fico bastante tentado a definir uma conversa perfeita como um encontro que reproduza aquele espírito trazendo pra mim o entusiasmo de pensar e pensar e pensar. Esse é um tema recorrente e já raspei por ele em outras postagens (“O Inferno são os Outros?”). Mas vejo que dei voltas e mais voltas pra levantar um falso testemunho, porque, nesse ponto, a porca torce o rabo e sou obrigado a reconhecer que não é bem assim. Que fica faltando um treco fundamental, mais profundo e precioso pra moldar a MINHA CONVERSA PERFEITA. Esse elemento que veio em profusão no DNA dos três filhos de meus pais: uma felicidade infinita que só se faz presente pra mim e para meus irmãos se pudermos oferecer as palavras com o peito completa e absolutamente aberto, vulnerável. Não tem tanto a ver com a ideia que vamos dividir , mas com uma partilha de si próprio. Chegar tão pertopertíssimo quanto possível e dar mais um passo ainda. A gente treinou tanto isso, um com o outro, que se não for assim, não tem graça, ou perde muito. É o qualquer-coisa-que-não-sei-o-que nascido desse momento que eu não troco por nada nesse mundo! Nessa hora, estou em casa.

Gameofthrones


domingo, 1 de junho de 2014

Ultrassonografia


Passeando pela web, vi uma fotografia do mar que envolve a costa do Rio de Janeiro. Nada mais comum, se não fosse pela hora e meteorologia do momento do click, final da tarde de um dia de chuva numa praia praticamente deserta. Olhei aquilo e percebi que estava prestes a recuperar algo que já tinha possuído. Esperei muito pouquinho até a lembrança chegar: lá estou eu, com menos de vinte anos, hospedado com mais um batalhão de amigos, numa casa de veraneio na praia do Peró. Assim como na imagem da tela do computador, a luz do dia já se vai e começa a cair uma chuva bem fininha, poeira de água. Todos voltaram para casa, menos eu. Resolvi dar mais um mergulho na água que parece agora feita de outra substância mais grave, como se ensaiasse uma tentativa de virar mercurio. Afundo completamente, saindo do alcance do som e da luz e no momento meu cérebro tem apenas o tato para receber qualquer mensagem do mundo. Desse modo, fico com a impressão de que tudo que sobrou da existência inteira se resume àquilo que se passa na minha cabeça, e que se me esforçar um pouco, posso realizar qualquer milagre e inventar todos os universos. Mesmo sem a memória de tudo que pensei, sei que não foi o suficiente. O oxigênio terminou antes da CRIAÇÃO. Passo a boiar de costas e recuperei a visão. Habito um mundo em que o chão e o ar são feitos de água. Os barulhos quase todos ainda ausentes dos ouvidos submersos. Nesse momento é que eu noto o que está esquisito: houve uma inversão e aquilo que os meus sentidos me dizem parece mais abstrato que as ideias nascidas nas dimensões interiores. Começo a nadar recuperando o desejo de apoiar os pés na areia e vou mirando as luzes das casas na praia que ficou distante por culpa de alguma corrente me levando mar adentro. Alcanço afinal um elemento sólido e ando percebendo pela primeira vez (ao que recordo) que tenho ossos e que eles me constroem. Caminho pra casa com uma expectativa muito forte de que a qualquer momento posso flutuar.

Lição de Anatomia

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Como se fosse na Copa


Ouvi outro dia: “Se você quer ser aluno do CEFET, tem que ralar e correr atrás de verdade. Não gostou, então vai lá pra FAETEC!” Era um professor (colega meu na Celso Suckow) falando com alguns de seus alunos. A verdade verdadeira mesmo é que (e confesso coberto de vergonha) se nunca falei essa frase, já disse coisa muito semelhante, carregando a mesmíssima mensagem. E isso tudo me deixou encasquetado por um tempão: por que diabos eu falei barbaridades desse tipo, se não acredito nelas nem um pouquinho? Pôxa vida! Será que não é obvio e ululante que estão aí, pelo menos, duas ideias absurdamente tortas?
A mais gritante pra mim (por ser mais simplória mesmo) é essa doideira, que nos persegue a todos, de ficar criando espaços VIP onde só os escolhidos ou muito merecedores podem estar (e devem se orgulhar muito disso!). Caramba! Como querer lutar contra a desigualdade no mundo sem atacar a loucura na nossa própria visão elitista, presente até a raiz dos cabelos em cada palavra do discurso do professor lá do início? Queremos diminuir as diferenças e aumentar as oportunidades atiçando o orgulho divino de quem conseguiu chegar no Olimpo? É isso mesmo?? “Ah, até agora vocês se mostraram bons o suficiente pra se destacar daquela corja, mas se sairem da linha, voltam pra lá e vão ter que chafurdar na lama novamente!” Cruz credo!
A outra é uma fonte inesgotável de dor: a crença de que pra sermos felizes temos primeiro que sofrer um bocado. Que droga! O Mundo já tem complicações e problemas de sobra! Pra que ficar inventando mais ainda? E o que é mais imperdoável, pra jogar tudo no colo de nossos alunos à guisa de “treinamento”?
Pro Inferno!!! Repito: Pro Inferno com esse raio desse treinamento!!! Não foi pra isso que eu me fiz professor! Vi sempre tanta coisa maravilhosa que foi pensada, imaginada, criada e construída por nossa raça, que um dia resolvi ajudar a mostrar um pouco dessa beleza pros outros e, quem sabe, inventar com eles umas cores novas. E onde eu podia fazer essa festa toda? Na escola, é claro!!
Acredito até o fundo da minha alma que qualquer aluno, que a gente consiga levar em um mergulho ao encontro dessas maravilhas, vai ser capaz de trilhar seu caminho com competência, sendo feliz e pródigo no trabalho.
Nenhuma das pessoas brilhantes que conheci ficaram assim pela ação do castigo e da ordem disciplinadora, ou pelo sofrimento. Acho, isso sim, que conseguiram ser o que são apesar dessas coisas todas.

Depois de dar muita cabeçada e de visitar por tantas vezes esses caminhos pré-programados da burrice, espero ficar atento pra evitar novos escorregões, que se for pra colaborar com a estupidez, prefiro pedir meu boné e ir ganhar o pão de cada dia em outras bandas.

 
Sparta


domingo, 18 de maio de 2014

O Sombra sabe ou A sombra sobe?


O sonho é assim: eu estou indo com uma certa urgência e angústia para a frente do espelho. Quando me vejo, percebo que minha pele toda está coberta de espinhos, milhares deles. Acordo imediatamente, e o vislumbre foi muito muito rápido, mas fico impregnado por uma sensação de que estou fora da ordem ou que fui excluído da parte relevante do mundo, talvez, por ter frustrado espectativas de quem se aproximou e foi espetado. Tenho certeza de que esqueceram de me dar um aviso muito importante e que fatalmente vou perder alguma coisa.
É isso, ser inadequado é um dos meus pesadelos. Se não são espinhos, tenho plena consciência de que possuo cotovelos, joelhos e quinas contundentes em demasia. Por mais que eu busque a delicadeza, sei como é fácil ferir alguém no meu caminho por aí. Pior, a probabilidade maior é de acertar alguém que eu amo, e que, por isso mesmo, está por perto. Só pra citar um exemplo, fui surpreendido outro dia com o nível de preocupação que me assaltou ao ver minha filha de dezoito anos pondo água no fogo pra fazer miojo. É duro ver que o amor, sim, mesmo ele, pode se traduzir em ações nocivas, e conduzir a coisas como superproteção (ou sentimento de posse ou ciumes) que emperram o percurso mais pleno da vida de quem (logo daqueles) queremos cuidar com tanto carinho. Parece brincadeira (sim, é estúpido e me envergonho muito disso), mas nem sempre é claro pra mim o absurdo da loucura que se mostrou presente no episódio do medo-do-macarrão-fervente.
Nessa hora, preciso usar toda minha energia e mais um pouco para não ir para o extremo oposto, paralisar completamente as ações e movimentos, por constatar a capacidade de atingir olhos e lábios ao meu redor. Minha cabeça fica preenchida com a ideia de que podemos ser pesados de verdade, e não há maneira de um hipopótamo pular gentilmente no colo de quem quer que seja. Ficam sequelas e esmagamentos.
Respiro fundo e tento me encher de coragem para voltar a navegar, com atenção redobrada em manter o rumo e o prumo do barco. E sigo sussurrando minha prece: vamos, vamos... “depressa e devagar”...

Escolha
ou
#givemeakissandahug 

domingo, 27 de abril de 2014

Aperte a tecla verde CONFIRMA


Desde que ouvi a frase “Não me venham com a problemática que eu tenho a solucionática!”, pareceu que ela servia exatinha pra descrever minha postura diante das complicações e dos nós que, vira e mexe, acabam se metendo no caminho. Mas as contradições moram em todo canto, e em outros cômodos da minha vida as coisas não são bem assim. Por exemplo, quando sou pintor ou leitor ou estudante de ciência ou de filosofia ou estou passando por qualquer lugar ermo do pensamento abstrato, me sinto infinitamente mais feliz visitando as regiões nebulosas do que as ideias limpas e claras. É naquelas que eu quero mergulhar e me sentir perdido, sabendo quase secretamente que dali a pouco pego uma trilha e retorno à superficie.
E achei que ia ser sempre assim, no mundo áspero do chão e do Sol eu escolhia a RESPOSTA; já na esfera etérea das ideias e dos sonhos eu me deleitava com as PERGUNTAS. Acontece que, se por acaso, vai que o chão e o sonho se misturam? E aí? Como é que fica?
pergunta-ou-resposta?chão-ou-ideia?Sol-ou-sonho? E de repente POW! A gente dá de cara na parede!
E aí cai, levanta sem pelo menos dois dentes da frente e fica meio atordoado pra escolher um rumo. Acho que nessa hora é que as pessoas viram gente grande e “fazem o que têm que fazer”, seja lá o que for isso. Não tenho certeza, mas desconfio que eu, em pé diante da encruzilhada, vou sentir uma enorme vontade de ficar embalando as duas (ou tantas quantas forem) desescolhas nos meus braços até o fim dos tempos e do tempo...

estado fundamental

domingo, 6 de abril de 2014

Entropia e saio...


Nem sei dizer quando foi que eu vi, mas sei que em algum movimento da minha infância percebi o incrível presente que eram as palavras: recipientes mágicos que nos permitiam, com a mesma eficácia, inventar a imaginação e depois guardá-la. Entendi com muuuuita precisão que cada texto (todos e de quem quer que fosse) que se produzia aumentava o mundo da mesma forma que uma casa, uma rua, uma estrada... mas com a diferença que aquele se multiplicava por tantos quantos fossem seus leitores e mais. A sensação de estar agora mesmo, neste instante, expandindo o que HÁ (ainda que sem a preocupação da medida ou da modéstia de cada toque no teclado) é sublime e maravilhosa. Nesse mesmo rol, transitam as ações de oferecer um livro ou contar uma história...

Acho que é isso: esse é um resumo mais ou menos organizado do que me passou pela cabeça quando encontrei um arquivo (no meu quase extinto notebook) com um poema(??) que escrevi para presentear minha irmã há já nem sei quantos anos. Além das ideias, veio também um vislumbre que acabou sendo o motivo dessa postagem.


O Vento passava por todos os caminhos do Mundo
Preenchendo o vazio com seu quase vazio.
Misturava gotas e grãos na alquimia do acaso.
Intrigava com o próprio assovio
Sem verbo e sem tempo...

Os olhos e bocas, que já habitavam a vida,
Viam e murmuravam no ritmo da mastigação.

Toda história, então, aconteceu em três dias:

No primeiro, um grão roçou os olhos
E apareceu a lágrima.

No segundo, as folhas acariciaram a face
E veio o riso.

No terceiro, a menina perguntou quase sussurrando
Ei, vocês estão ouvindo a música do vento?

Prece

sábado, 29 de março de 2014

"É fila? ou pega senha?"


A primeira vez foi assim:
Eu tenho quinze, dezesseis anos no máximo e me sinto fora do mundo (com essa idade, quem não?). Aprendi metade de tudo com os olhos, nas letras literárias dos livros, e a outra metade com a pulsação dos passos, no chão do meu bairro pequenino e distante como o diabo. Essas experiências, que são para mim como água e óleo, me deixam assim, exilado da sensação de estar no caminho. Sonho constantemente que a arte pode milagrosamente virar minha bússola e me mostrar um onde qualquer. Mas os dias passam e só o que trazem são outros dias, direção que ė bom, neca! Nesse tempo que se arrasta, chega uma ventania de sacudir a tranquilidade e as antenas não-parabólicas que comandam o que aparece nas telas da época. Na nossa casa, a antena fica no alto de um prédio de uns sete metros de altura, nos fundos (meu pai, mestre do exagero, fez um miniedifício pra sustentar uma super caixa d'água). E lá vou eu, subir no lugar mais alto do bairro, reapontar aquele treco pro lado certo e trazer as imagens de volta pra tv. Quando chego no topo da escada, já está chovendo à vera e começa a trovejar. O ar fica muito viscoso, e eu passo a me mover muuuito leeenntaaameenntteee. Os raios caindo cada vez mais próximos. Sinto minha saliva ganhar um sabor metålico, indicando que estou pronto... fico um bom tempo “olhando” pra cima, mas de olhos fechados, esperando sei lá o que. De repente, começo a descer a escada e não vejo o trajeto que me leva até o rosto preocupado da minha mãe perguntando "você tava lá em cima até agora?".

A segunda aconteceu há poucos dias:
Eu estou dirigindo, levando minha família pra casa, e um carro fecha meu caminho e para no meio da rua. Descem duas pistolas apontadas pra direção de algum ponto próximo da minha cabeça. Um dos assaltantes chuta a porta ao meu lado e eu sinto a saliva ganhar aquele mesmo gosto metálico, indicando, de novo, que estou pronto...

 Sonho de Sal

domingo, 9 de março de 2014

Caminhos e Migalhas de Pão


Estou juntando material para fazer um blog sobre dois irmãos que calharam de ser meus tios-avôs, Octávio e Armando Sgarbi. O primeiro, que teria completado cem anos há alguns dias, eu só pude conhecer pelos escritos, histórias, ilustrações e alguns quadros. O segundo foi o interlocutor de tantas infinitas prosas da minha infância nas aventuras do verbo, da rima das cores e do traço. E foi assim que, olhando as pastas com desenhos e contos do tio Armando, achei um texto de minha autoria que tinha sido posto lá, como homenagem - essa “Farpa” que deixo agora com vocês - realizado algumas horas depois de sua morte, para tentar driblar a dor pela perda de uma das pessoas mais brilhantes e queridas desse meu mundo. A figura que fecha a postagem foi concebida durante esse reencontro...



Farpa


         Mais uma batalha. No meio da confusão, destaca-se um cavaleiro de movimentos precisos, desferindo golpes que derrubam os inimigos um a um, após lhes revelar o sabor da espada.

Se o cavaleiro possuísse uma mente abstrata, ela estaria vazia agora, sem pensamentos, só ritmo e ação.

         De repente (de onde?), ele sente o toque de uma lança ou lâmina e percebe que está morto. Cai, cumprindo seu papel com o final dos músculos e do equilíbrio. O chão lhe parece absurdo assim tão próximo do rosto e a cabeça do cavaleiro, subitamente, está cheia de imagens, palavras, delírios...

Os sons e a dinâmica da luta se afastam e, numa farpa do tempo, ele imagina ou sonha ou vive uma outra vida:

         É então um homem calmo que convive intimamente com as idéias, usa os músculos e o equilíbrio de forma muito econômica. (Caso o antigo cavaleiro pudesse se ver assim, pensaria ver uma estátua)

Dessa vez a vida de aventuras e batalhas só existe nas histórias que ele lê e inventa. São tantas e tantas essas histórias... um sorriso muito peculiar revela o quanto de apreço ele tem por isso tudo.

         Mas, hei! é só uma farpa do tempo, lembra? E aquele homem sereno está morrendo agora. Está prestes a fechar os olhos definitivamente...Num fragmento de uma farpa do tempo (nesse instante, veja!) ele está escolhendo a vida que quer imaginar, sonhar ou viver dessa vez. E um último sorriso (aquele mesmo) revela o quanto ele gosta disso.

Aventura Particular

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Sociedade Secreta


Penso que a lista das coisas que acho belas é tão importante para me definir quanto a lista das coisas que me irritam, mas, certamente, a segunda vale muito mais na hora de decidir o que eu quero mudar em mim. Nessa linha da mudança, coloco uma terceira (e mais central): a lista das-coisas-que-me-envergonho-de-ter-feito. Pois então... recordo muito bem a primeira vez que vi um quadro do Jackson Pollock (o quadro do Pollock está na segunda lista). Olhei aquilo sem nenhuma cumplicidade e disparei: “qualquer um pode pintar isso!” (Sim, sim, essa frase está na terceira lista), mas o que falei logo depois foi ainda pior: “não entendo como é que essa turma quer pintar sem saber desenhar nem uma casinha!!” (também na terceira lista).
Mesmo lembrando que eu era muito jovem e estúpido, dá para perceber algo aí...
Parece que em arte, assim como em tantos e tantos ramos das criações humanas, ficamos o tempo todo construindo cerquinhas e murinhos pra regular a entrada seleta de quem vai fazer parte do clube.
“Não dá pra todo mundo ser artista!” (terceira lista.)
Foi então que há uns dias, nesses tempos intermináveis de sol, eu estava na piscina do condomínio onde moro, conversando com um vizinho sobre o meu trabalho como professor do CEFET. Falava da necessidade de oferecer a todos os jovens uma escola como a minha e blábláblá, blábláblá...
Meu vizinho, de repente, me interrompe e fala: “mas cuidado aí! Também, se todo mundo quiser ser bacharel, quem é que vai limpar o chão?” Na mesma hora me virei para pegar uma vassoura e começar a varrer, numa atitude exemplar, quando soou uma sirene interna acionada por um ou dois itens das listas. Respondi só um “sei não...”, botei a viola no saco e fui pra casa, antes de mais nada, desencravar carunchos que insistem em fincar o pé nas minhas ideias. 

 #bravuraindomita
ou
Manual de barbearia do século XX