domingo, 27 de abril de 2014

Aperte a tecla verde CONFIRMA


Desde que ouvi a frase “Não me venham com a problemática que eu tenho a solucionática!”, pareceu que ela servia exatinha pra descrever minha postura diante das complicações e dos nós que, vira e mexe, acabam se metendo no caminho. Mas as contradições moram em todo canto, e em outros cômodos da minha vida as coisas não são bem assim. Por exemplo, quando sou pintor ou leitor ou estudante de ciência ou de filosofia ou estou passando por qualquer lugar ermo do pensamento abstrato, me sinto infinitamente mais feliz visitando as regiões nebulosas do que as ideias limpas e claras. É naquelas que eu quero mergulhar e me sentir perdido, sabendo quase secretamente que dali a pouco pego uma trilha e retorno à superficie.
E achei que ia ser sempre assim, no mundo áspero do chão e do Sol eu escolhia a RESPOSTA; já na esfera etérea das ideias e dos sonhos eu me deleitava com as PERGUNTAS. Acontece que, se por acaso, vai que o chão e o sonho se misturam? E aí? Como é que fica?
pergunta-ou-resposta?chão-ou-ideia?Sol-ou-sonho? E de repente POW! A gente dá de cara na parede!
E aí cai, levanta sem pelo menos dois dentes da frente e fica meio atordoado pra escolher um rumo. Acho que nessa hora é que as pessoas viram gente grande e “fazem o que têm que fazer”, seja lá o que for isso. Não tenho certeza, mas desconfio que eu, em pé diante da encruzilhada, vou sentir uma enorme vontade de ficar embalando as duas (ou tantas quantas forem) desescolhas nos meus braços até o fim dos tempos e do tempo...

estado fundamental

domingo, 6 de abril de 2014

Entropia e saio...


Nem sei dizer quando foi que eu vi, mas sei que em algum movimento da minha infância percebi o incrível presente que eram as palavras: recipientes mágicos que nos permitiam, com a mesma eficácia, inventar a imaginação e depois guardá-la. Entendi com muuuuita precisão que cada texto (todos e de quem quer que fosse) que se produzia aumentava o mundo da mesma forma que uma casa, uma rua, uma estrada... mas com a diferença que aquele se multiplicava por tantos quantos fossem seus leitores e mais. A sensação de estar agora mesmo, neste instante, expandindo o que HÁ (ainda que sem a preocupação da medida ou da modéstia de cada toque no teclado) é sublime e maravilhosa. Nesse mesmo rol, transitam as ações de oferecer um livro ou contar uma história...

Acho que é isso: esse é um resumo mais ou menos organizado do que me passou pela cabeça quando encontrei um arquivo (no meu quase extinto notebook) com um poema(??) que escrevi para presentear minha irmã há já nem sei quantos anos. Além das ideias, veio também um vislumbre que acabou sendo o motivo dessa postagem.


O Vento passava por todos os caminhos do Mundo
Preenchendo o vazio com seu quase vazio.
Misturava gotas e grãos na alquimia do acaso.
Intrigava com o próprio assovio
Sem verbo e sem tempo...

Os olhos e bocas, que já habitavam a vida,
Viam e murmuravam no ritmo da mastigação.

Toda história, então, aconteceu em três dias:

No primeiro, um grão roçou os olhos
E apareceu a lágrima.

No segundo, as folhas acariciaram a face
E veio o riso.

No terceiro, a menina perguntou quase sussurrando
Ei, vocês estão ouvindo a música do vento?

Prece