segunda-feira, 26 de maio de 2014

Como se fosse na Copa


Ouvi outro dia: “Se você quer ser aluno do CEFET, tem que ralar e correr atrás de verdade. Não gostou, então vai lá pra FAETEC!” Era um professor (colega meu na Celso Suckow) falando com alguns de seus alunos. A verdade verdadeira mesmo é que (e confesso coberto de vergonha) se nunca falei essa frase, já disse coisa muito semelhante, carregando a mesmíssima mensagem. E isso tudo me deixou encasquetado por um tempão: por que diabos eu falei barbaridades desse tipo, se não acredito nelas nem um pouquinho? Pôxa vida! Será que não é obvio e ululante que estão aí, pelo menos, duas ideias absurdamente tortas?
A mais gritante pra mim (por ser mais simplória mesmo) é essa doideira, que nos persegue a todos, de ficar criando espaços VIP onde só os escolhidos ou muito merecedores podem estar (e devem se orgulhar muito disso!). Caramba! Como querer lutar contra a desigualdade no mundo sem atacar a loucura na nossa própria visão elitista, presente até a raiz dos cabelos em cada palavra do discurso do professor lá do início? Queremos diminuir as diferenças e aumentar as oportunidades atiçando o orgulho divino de quem conseguiu chegar no Olimpo? É isso mesmo?? “Ah, até agora vocês se mostraram bons o suficiente pra se destacar daquela corja, mas se sairem da linha, voltam pra lá e vão ter que chafurdar na lama novamente!” Cruz credo!
A outra é uma fonte inesgotável de dor: a crença de que pra sermos felizes temos primeiro que sofrer um bocado. Que droga! O Mundo já tem complicações e problemas de sobra! Pra que ficar inventando mais ainda? E o que é mais imperdoável, pra jogar tudo no colo de nossos alunos à guisa de “treinamento”?
Pro Inferno!!! Repito: Pro Inferno com esse raio desse treinamento!!! Não foi pra isso que eu me fiz professor! Vi sempre tanta coisa maravilhosa que foi pensada, imaginada, criada e construída por nossa raça, que um dia resolvi ajudar a mostrar um pouco dessa beleza pros outros e, quem sabe, inventar com eles umas cores novas. E onde eu podia fazer essa festa toda? Na escola, é claro!!
Acredito até o fundo da minha alma que qualquer aluno, que a gente consiga levar em um mergulho ao encontro dessas maravilhas, vai ser capaz de trilhar seu caminho com competência, sendo feliz e pródigo no trabalho.
Nenhuma das pessoas brilhantes que conheci ficaram assim pela ação do castigo e da ordem disciplinadora, ou pelo sofrimento. Acho, isso sim, que conseguiram ser o que são apesar dessas coisas todas.

Depois de dar muita cabeçada e de visitar por tantas vezes esses caminhos pré-programados da burrice, espero ficar atento pra evitar novos escorregões, que se for pra colaborar com a estupidez, prefiro pedir meu boné e ir ganhar o pão de cada dia em outras bandas.

 
Sparta


domingo, 18 de maio de 2014

O Sombra sabe ou A sombra sobe?


O sonho é assim: eu estou indo com uma certa urgência e angústia para a frente do espelho. Quando me vejo, percebo que minha pele toda está coberta de espinhos, milhares deles. Acordo imediatamente, e o vislumbre foi muito muito rápido, mas fico impregnado por uma sensação de que estou fora da ordem ou que fui excluído da parte relevante do mundo, talvez, por ter frustrado espectativas de quem se aproximou e foi espetado. Tenho certeza de que esqueceram de me dar um aviso muito importante e que fatalmente vou perder alguma coisa.
É isso, ser inadequado é um dos meus pesadelos. Se não são espinhos, tenho plena consciência de que possuo cotovelos, joelhos e quinas contundentes em demasia. Por mais que eu busque a delicadeza, sei como é fácil ferir alguém no meu caminho por aí. Pior, a probabilidade maior é de acertar alguém que eu amo, e que, por isso mesmo, está por perto. Só pra citar um exemplo, fui surpreendido outro dia com o nível de preocupação que me assaltou ao ver minha filha de dezoito anos pondo água no fogo pra fazer miojo. É duro ver que o amor, sim, mesmo ele, pode se traduzir em ações nocivas, e conduzir a coisas como superproteção (ou sentimento de posse ou ciumes) que emperram o percurso mais pleno da vida de quem (logo daqueles) queremos cuidar com tanto carinho. Parece brincadeira (sim, é estúpido e me envergonho muito disso), mas nem sempre é claro pra mim o absurdo da loucura que se mostrou presente no episódio do medo-do-macarrão-fervente.
Nessa hora, preciso usar toda minha energia e mais um pouco para não ir para o extremo oposto, paralisar completamente as ações e movimentos, por constatar a capacidade de atingir olhos e lábios ao meu redor. Minha cabeça fica preenchida com a ideia de que podemos ser pesados de verdade, e não há maneira de um hipopótamo pular gentilmente no colo de quem quer que seja. Ficam sequelas e esmagamentos.
Respiro fundo e tento me encher de coragem para voltar a navegar, com atenção redobrada em manter o rumo e o prumo do barco. E sigo sussurrando minha prece: vamos, vamos... “depressa e devagar”...

Escolha
ou
#givemeakissandahug