quinta-feira, 28 de maio de 2015

O Quatrojan


Logo depois da virada do ano, no primeiro domingo, a praia nos recebeu indisposta, de cara feia. Lixo pra todo lado. A impressão era que a areia nunca mais ia conseguir se livrar daquela sujeirada. Um pensamento ranzinza e reclamão (que me fez lembrar que estou ficando velho) apareceu na mesma hora: “o pessoal já começou mal odoismilequinze! vêm comemorar e largam o lugar imundo desse jeito!”.
Por pura sorte, desviei o olhar num microinstante e vi o trabalho consistente e confiante de um gari na luta contra os detritos. Com aquela imagem já devidamente armazenada, mudamos o sentido da caminhada e fomos para o posto-nove-que-não-há. Conforme andávamos, a areia ia ficando mais limpa e as pessoas menos numerosas. A respiração e a conversa quase podiam voltar ao como-devem-ser-sempre. Uma onda quebrou forte e barulhenta na areia para lembrar que, pela zilionésima vez, naquela manhã, o mundo reinaugurava esse negócio de existir.
Quando as pernas e o cansaço avisaram que era hora de parar, o relógio da calçada acendia um 8:55 e logo trocava pra 4 jan. Fiquei um tempinho meio abobalhado, recebendo ciclicamente aquelas duas informações que se alternavam...aí, restartei o cérebro e corri pra minha água de coco.
Enquanto saboreava aquela delícia de estalar a língua, pude ouvir, acima de todo burburinho matinal, o Tempo gritando pra mim e pra quem mais quisesse prestar atenção: Olha, Abri tudo quanto foi porta! Os caminhos estão aí! Agora é com você!


Quebracabeça