No
final de 2011 – Dio mio, já faz um ano! – eu e mais seis ou sete
professores de física do cefet formamos um grupo para estudar e
discutir Fundamentos de Mecânica Quântica. Após um brainstorm
inicial, escolhemos e separamos a bibliografia básica, seguindo
principalmente as sugestões de nosso mentor-mor e integrante do
grupo, Antônio Domingues. Acho que a reunião de seres para
conversar é, mais que uma atividade agradável, um privilégio da
raça humana. Se acrescentamos a isso um objeto de discussão,
criamos uma aventura de pensamento que pra mim consiste em um dos
maiores deleites advindos do convívio social. Pode parecer bizarro
para quem nunca teve uma experiência semelhante, mas passar algumas
horas discutindo física, metafísica e filosofia da ciência é
muito divertido. Um grande prazer trabalhar assim.
Em contraste com o mundo ordenado de um professor-pesquisador, quando
pensei em viver da arte, não fiz nada de maneira institucionalizada.
Em parte porque queria mostrar para mim mesmo e para todos (Caramba!
Quanta arrogância!) que sendo amador-artista, no sentido de só
fazer o que realmente gostasse, alcançaria o sucesso. Em parte
consegui. Consegui ser amador... Bem, me perdoem vocês que se
mantêm resignados na leitura desse texto até agora, se parece que
vou começar a desfiar queixas e lamúrias. Nada disso! Cometi essa
desinconfidência só pra dizer que nunca pude formar, de verdade, um
grupo de discussão em que o assunto fosse Arte. Cheguei a tentar,
mas eu tinha acabado de viver no ambiente acadêmico da Ciência, e
meus colegas das tintas ficavam querendo que eu explicasse o que era
física quântica (sim, parece um karma). E perguntavam se eu não
via a dualidade onda-partícula em qualquer canto de tudo quanto era
quadro. Achavam tudo muito lindo e interessante. Eu queria outras
ideias e não tive paciência, passando a considerar aquele grupo um
bando de malucos (novamente: Caramba! Quanta arrogância!). Enfim,
não funcionou e fizemos pouquíssimos encontros..
Nessa
época, um pintor, que era amigo de um dos artistas que dividiam
comigo o aluguel do atelier, pediu para passar algumas noites
dormindo num colchonete em um dos cômodos (tempos difíceis). Ele
não fazia parte do pseudogrupo de discussões, mas participou de uma
reunião. Eu estava mostrando e comentando alguns trabalhos meus,
quando ele falou um negócio que ainda me faz pensar: “Cara, eu
acho seus quadros bem legais, mas você tem que tomar cuidado pra
eles não ficarem anedóticos. A pintura só deve servir à pintura,
não deve contar historinhas. Você é muito literário...”
Well,
well, well... Até hoje eu não sei a quem a pintura deve servir e
sempre acho que os meus quadros e desenhos são anedóticos. Este que
jogo hoje na nuvem é, provavelmente, um dos exemplos mais típicos
dentre todos. E confesso que ele quer mesmo, pelo menos um pouco,
contar em cores essas historinhas que acabam de ser apalavradas.
Grupo de Pesquisa
Óleo sobre tela, 110 x 90 cm