sexta-feira, 30 de março de 2012

Espesso Tempo, tento.


O Chico (ou o Paulo) Caruso disse uma vez que toda criança gosta de desenhar, mas conforme cresce vai parando. O desenhista profissional é alguém que, por alguma razão, não parou. Comigo foi assim, só que nunca cheguei nem perto de viver do traço. Quando me aproximei da arte com pretensões mais sérias, pensei na pintura.
Se bem que, pra falar a verdade, no começo eu achava que pintura era desenhar colorido. Só o tempo impregnado de tinta me mostrou o verdadeiro deleite que é fazer as cores alcançarem a tela.
O resultado da primeira tentativa que considero bem sucedida, na minha travessia de desenhista para pintor, é o trabalho aí embaixo. É também um tema bíblicorreligioso, pra fazer companhia à postagem anterior.



Última Ceia
Óleo sobre Tela  90 x 80 cm

terça-feira, 20 de março de 2012

Mitos, Arquétipos e Lendas, todos na paz do Senhor


Não conheço uma criança sequer que despreze a chance de ouvir historias da Bíblia. Seja no Velho ou Novo Testamento, as passagens tem todos os elementos pra conquistar as mentes infantis. Heróis, Vilões, amores, batalhas e muita magia e fatos fantásticos. Bem, eu pelo menos adorava. Discutia com meus pais, meu irmão e, eventualmente algum amigo, incauto defensor de sua crença: “Poxa, então será que o Sansão era idiota?” ou “Depois que o Lazaro reviveu, nunca mais ficou doente?” ou ainda “No Diluvio, quem ficou responsável pela preservação das especies da América do Sul? E da Austrália, aquele monte de bicho esquisito?”. Minha cabeça fervilhava distante do fervor religioso. Nunca fomos frequentadores de igrejas, templos ou qualquer tipo de lugar dessa índole.

Uma vez, na escola onde eu fazia o curso primário, estávamos nós, aquele bando de pirralhos, formados pra entrar em sala, quando a Tia Fulaninha da Secretaria pegou a mão do primeiro da fila e foi desviando do caminho, dizendo que, naquele dia, tinha vindo um padre (reparem que era uma escola municipal, e não daquelas ricas de freira nem nada) e “a gente ia se confessar” antes da aula. Eu sei que nessa hora me bateu um baita desespero: “Que mané padre que nada! Eu não fiz coisa errada, não vou confessar droga nenhuma! Quem tivesse vacilado que se acusasse.”
Nisso, a Tia Marielena percebeu minha indignação e disse que não era obrigado a nada não, só quem tivesse feito Primeira Comunhão. Eu pensei “dessa me livrei!”. Quase gritando, falei pra professora “Não participei disso não, Tia, tô inocente na parada!”. Lembro que sai correndo da fila, pensando que quando fizesse a Primeira, ia tentar fazer sem Munhão.

Pois mesmo assim, apesar do abismo entre meu cotidiano e o formalismo religioso, as influências são muitas. Fiz vários desenhos e pinturas com temas bíblicos. Este, que deixo com vocês agora, foi cometido no século passado. Estava guardado sem o devido cuidado e, um dia quando que fui ver, tinha ficado todo oxidado e amassado. Na mesma hora, fotografei-o e guardei o arquivo em 'Meus Documentos'. Pura sorte! Menos de um mês depois, alguém que arrumava a minha casa pegou aquele papel enrolado (tamanho A2, ou coisa que o valha) e jogou no lixo pra nunca mais.  



Álbum de Família ou Deus com Adão e Eva
Desenho a nanquim com cerca de 80 por 60 cm, recuperado digitalmente a partir de uma fotografia

sexta-feira, 9 de março de 2012

CNPq...e por aí vai


Meu pai, quando criança, foi muito, muito, muito pobre. Tinha um padrasto de contos de fadas, ou pior, e era obrigado a trabalhar de verdade desde os cinco anos pelo menos. Foi corajoso e forte, como só os pais e mães sabem ser, e superou todos os abismos e barreiras para se tornar uma das melhores pessoas que tive oportunidade de conhecer, alcançando uma doçura quase inacreditável em vista da dureza de sua vida. Não alcançou no entanto o deleite das artes. Esse foi um mundo em que eu acho que nunca mergulhou. Foi ser militar da Aeronáutica.
Meu pai também não era cientista. Era, no entanto, um entusiasta da ciência. Provavelmente, das ideias que ele dividia comigo na minha infância, a que adotei com maior cumplicidade foi sua crença quase religiosa no poder do pensamento cientifico, em sua capacidade de compreender e modificar o mundo e, principalmente, resolver todos os problemas da humanidade. Lembro que os primeiros livros que li, logo depois de deixar minha condição de analfabeto, faziam parte de uma coleção de divulgação de física para crianças e tinham os títulos 'O Átomo' e 'Magnetismo'. Esse meu inicio como leitor, além de me fazer parecer um extraterrestre aos olhos dos amigos da mesma idade, foi obviamente preponderante nas escolhas que me conduziram 'a carreira de Físico.
Esse blablablá inicial não está aqui, de maneira nenhuma, para apresentar as imagens postadas agora como representações dessa ou daquela ideia cientifica. Cruz credo! Tem, isso sim, a intenção de dividir com vocês um sentimento, ou uma fracão dele ainda presente no trabalho aí de baixo, que nasce na cabeça de um menino de cinco anos que vê maravilhado a beleza das ilustrações de Gustave Dore para o livro de Fabulas de La Fontaine e, ao mesmo tempo, pensa em como aquilo que ele segura, o papel e mesmo a tinta das gravuras, se constrói com zilhões e zilhões de prótons, elétrons e nêutrons.


Hubble
Desenho digital criado com TwistedBrush Open Studio