sexta-feira, 8 de junho de 2012

Pulando do Abismo pro Fio da Navalha


Uma vez, um amigo me perguntou qual linguagem artística mais me agradava. Sem parar pra pensar (pensei junto com as cordas vocais, eu acho), fui falando em ordem: primeiro a Literatura – ler é um prazer tão grande que precisa inventar um adjetivo pra qualificar; logo depois vem o Cinema – fiz uma sala de exibição em casa e sou capaz de assistir dez filmes seguidos; em terceiro...“Epa, péra la” era meu interlocutor reclamando: “você não é pintor? Que papo é esse de livro e filme?”
Pois é, pintura, pra mim, tem uma importância infinita na hora de fazer, mas quando eu sou plateia, não me toca tanto quanto um bom livro ou filme. Sim, sim, claro que já me deliciei muito com tantos e tantos quadros, desenhos e gravuras que atravessaram meu caminho. Pintar, no entanto, especialmente com tinta a óleo, é uma ação que pertence a outra esfera. Demoro muito em cada quadro, é um trabalho em que estou sempre presente. Nada de ações mecânicas, cada passo com uma solene obrigação de me conduzir para algum lugar...embora eu não saiba aonde. Nesse ponto, reside o aspecto mais potente e exasperante do processo: há um aprendizado ininterrupto que quase não deixa respirar. É como pular de paraquedas o tempo todo.
Este quadro, que eu apresento agora, ocupa a parede principal de minha sala. Talvez porque foi durante sua confecção que percebi conscientemente esse sentimento que descrevi. Foi quando descobri que pintar era assim.




Cinderella
oleo sobre tela 140 x 80 cm