A
alegria de encontrar uma palavra nova... de um lado, tenho um
ego-que-se-acha--físico-cientista que entende que essa é mais uma
peça que pode ajudar na árdua tarefa de explicar o mundo. Por
outro, o ego-que-queria-ser-artista-poeta espera que ela possa ser
mais uma aliada na hora de desconstruir tudo. De qualquer modo, foi
muito muito cedo que a convivência desses dois (três, quatro, n)
egos (por uma dádiva, não sei...) se tornou pacífica, de uma vez e
pra sempre. Com o tempo, no entanto, percebi que essa paz não era
partilhada nos corações e mentes de meus companheiros de aventuras.
A cada bifurcação que encontrava pelo caminho, sentia o meu
batimento acelerado pelo júbilo de mais uma oportunidade de me
dividir. Aí eu olhava pro lado e via a rapaziada toda suando de
nervoso. Começava a ouvir aquele papo de agora tem que escolher se
vai pra lá ou pra cá, ou não dá pra ficar em cima do muro! Então
eu arriscava que muro? Tem muro não, olha só. Dá pra ir pelos
dois...A turma me olhava, fazia um silêncio de uns dois segundos em
respeito à nossa amizade e recomeçava a discussão, vambora, é pra
que lado??
Às
vezes penso que essa 'dádiva' possa ser vista como uma limitação e
me imagino num mundo onde a maioria das pessoas é feita com
bloquinhos de Lego e eu fui construído com bolinhas de gude. Que
talvez isso tenha me impedido, e me impeça eternamente, de ser um
ponta-de-lança, de ser aquele que crê tanto na própria trajetória,
que é capaz de derrubar paredes e inaugurar novos mundos. E isso me
deixa um pouco cismado, porque muitos dos ídolos da minha infância
e de sempre eram pontas-de-lança. Mas...
Bom,
acabei pulando esse parágrafo por dois motivos: primeiro porque acho
legal largar essas divagações assim, pelo meio; e segundo porque
acabei de ver que essa postagem, com o texto e o desenho e tudo,
ficou sendo uma continuação da anterior. E eu não tinha planejado
nada disso. Quando resolvi repersonificar o príncipe da dúvida, nem
passei perto de perceber a correlação com um desenho de trinta e
dois anos atrás...
O
ego-numerólogo começou logo a fazer contas. Aquele desenho eu fiz
com dezesseis anos, esse eu fiz com dezesseis mais dezesseis mais
dezesseis...E aí começa 'o que será que eu desenhei há dezesseis
anos atrás? Ou o que vou desenhar daqui a sessenta e quatro
anos?'...
Hamlet
Desenho digital feito no MyPaint
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