Paulo Freire me disse
uma vez (através de um dos seus livros cujo título não consigo
lembrar) que nós, pessoas humanas, só estamos ou somos felizes
quando cuidamos uns dos outros. Assim que li, concordei em gênero,
número e grau. E fiquei orgulhoso por concordar tanto com um cara
feito ele, de importâncias e realizações realmente realizadoras
(como poucos há). Mas aí... Aí vem o raio da multiplicidade e
grita no meu ouvido com todas as vozes, enumerando com um rigor
irritante cada uma das infinitas ocasiões em que eu fui absurdamente
feliz com coisas minhas (tão somente minhas...) ou partilhando com
alguém-próximo-por-demais (e aí, não conta). Pois então...ficou na minha cabeça, nem sei desde quando, que praticar o bem
era aquela coisa meio nebulosa que tinha a ver com tomar conta dos outros, já o mal era tratar com desprezo tudo que está
fora de nossa-pele. Usando uma linguagem matemática:
O Mal =
Não_estar_nem_aí para X, se X não pertence a {EU MESMO};
Tá bom, mas se existe
uma coisa que sei é que eu não inventei este retalho de mundo
virtual para explicar coisa nenhuma, e sim pra repartir meus trabalhos. Então, essa introdução queria simplesmente
preparar espaço para duas imagens que , nos meus olhos, estão muito
ligadas a antagonismos como Eu X Nós, ou Solidão X Yellow Submarine, ou ainda Mal X Bem (que
para mim, é quase igual a Doente X São
), ou Liquidariedade X Solidariedade, ou algo do gênero...
Tem mais um negócio,
quase tudo que faço em arte começa com alguma (ou algumas)
pergunta(s) que eu escrevo pra mim mesmo e da mistura (eu) + (?)
surge um... (repare que isso não é também uma explicação, é
mais algo como contar um segredo), enfim, surge. Mas esses dois aí
embaixo não passaram por esse processo. Ambos apareceram envolvidos
em contextos específicos e, de repente, estavam lá... Duas
historinhas bem rapidinhas: Um deles era pra ser a ilustração de um
conto, escrito por um amigo, que tinha um personagem que só
conseguia se relacionar com os outros pela dor. E se alimentava
disso.
O outro estava pronto
quando vi, há quase trinta anos: um mendigo sentado na calçada, em
Copacabana, fabricando uma bola meticulosamente com trapos e sacos
de lixo. Um homem sozinho fazendo seu brinquedo. Na mesma hora, eu
percebi que tinha sido presenteado com um possível vislumbre do Mito
da Criação.
Aquele
desenho digital feito no MyPaint
Genesis
Oleo sobre tela - 70 x 50 cm