segunda-feira, 19 de agosto de 2013

BigBang


Paulo Freire me disse uma vez (através de um dos seus livros cujo título não consigo lembrar) que nós, pessoas humanas, só estamos ou somos felizes quando cuidamos uns dos outros. Assim que li, concordei em gênero, número e grau. E fiquei orgulhoso por concordar tanto com um cara feito ele, de importâncias e realizações realmente realizadoras (como poucos há). Mas aí... Aí vem o raio da multiplicidade e grita no meu ouvido com todas as vozes, enumerando com um rigor irritante cada uma das infinitas ocasiões em que eu fui absurdamente feliz com coisas minhas (tão somente minhas...) ou partilhando com alguém-próximo-por-demais (e aí, não conta). Pois então...ficou na minha cabeça, nem sei desde quando, que praticar o bem era aquela coisa meio nebulosa que tinha a ver com tomar conta dos  outros, já o mal era tratar com desprezo tudo que está fora de nossa-pele. Usando uma linguagem matemática:
O Mal = Não_estar_nem_aí para X, se X não pertence a {EU MESMO};
Tá bom, mas se existe uma coisa que sei é que eu não inventei este retalho de mundo virtual para explicar coisa nenhuma, e sim pra repartir meus trabalhos. Então, essa introdução queria simplesmente preparar espaço para duas imagens que , nos meus olhos, estão muito ligadas a antagonismos como Eu X Nós, ou Solidão X Yellow Submarine, ou ainda Mal X Bem (que para mim, é quase igual a Doente X São ), ou Liquidariedade X Solidariedade, ou algo do gênero...
Tem mais um negócio, quase tudo que faço em arte começa com alguma (ou algumas) pergunta(s) que eu escrevo pra mim mesmo e da mistura (eu) + (?) surge um... (repare que isso não é também uma explicação, é mais algo como contar um segredo), enfim, surge. Mas esses dois aí embaixo não passaram por esse processo. Ambos apareceram envolvidos em contextos específicos e, de repente, estavam lá... Duas historinhas bem rapidinhas: Um deles era pra ser a ilustração de um conto, escrito por um amigo, que tinha um personagem que só conseguia se relacionar com os outros pela dor. E se alimentava disso.
O outro estava pronto quando vi, há quase trinta anos: um mendigo sentado na calçada, em Copacabana, fabricando uma bola meticulosamente com trapos e sacos de lixo. Um homem sozinho fazendo seu brinquedo. Na mesma hora, eu percebi que tinha sido presenteado com um possível vislumbre do Mito da Criação.

Aquele
desenho digital feito no MyPaint

Genesis
Oleo sobre tela - 70 x 50 cm

Nenhum comentário:

Postar um comentário