Sempre que tenho que
qualificar, hieraquizar, julgar valor ou estabelecer limites mínimos,
eu me embanano de verdade. Deve ser porque, pra ser bem honesto, não
acredito nesse negócio. O que eu sei é que muitas e muitas vezes
consegui desviar desse dilema com uma resposta que me pareceu clara e
sedutora: “A avaliação é necessária e nada seria construído
sem ela”. Mas tem algo aí que não desce. Algo relacionado com um
tal de um verbo merecer.
Veja bem, não sou nenhum tapado, e está
claro pra mim que existem situações em que há mérito no mérito.
Só para citar um mundo familiar, a exigência de que se admitissem
apenas funcionários por concurso (um mecanismo avaliador de
merecimento), fez um bem enorme às instituições públicas.
Vitória da meritocracia sobre a bagunça geral que reinava
antigamente, trazendo alguma ordem ao caos. Pegando esse rumo, fica
parecendo mesmo certo que se levarmos essa ideia até as ultimas
consequências os resultados só podem ser excepcionais, fazendo o céu
na terra e construindo a utopia de verdade. Mas é claro que todo
leitor, que ainda se mantêm fiel e desperto nesse ponto do texto,
vai bradar em alto e bom som: “Péraí!! a gente já tá cansado de
saber que o céu de uns pode muito bem ser o inferno de outros, e...
utopia?? Utopia de quem?”
É justo nesse momento
que eu bato com a cara na parede. E já bati tantas vezes
que até esqueci qual seria o MEU céu na terra. Se pra mim não é
claro, imagine quando perguntar pra todo mundo...
Nas caixas da memória
tem, por exemplo, uma cena que ainda me arrepia: Uma corredora na
maratona de uma olimpíada, ou algo que o valha, se aproximando da
linha de chegada, andando toda torta. O controle motor já tinha ido
pras cucuias há muito tempo e a mulher, pra lá de estropiada, se
negando a receber qualquer ajuda até terminar a droga da prova. A
enorme beleza que eu via nesse momento não se dissipou completamente
(e sim, estou arrepiado agora), mas me pergunto se, de fato,
encontrar tanta preciosidade numa atitude dessas não está no fundo
no fundo relacionado ao embrião de uma cultura que traz um bocado de
miséria e infelicidade. Temo que tenhamos enfrentado a escassez (da
riqueza, da energia, das ideias brilhantes, da competência) por
muito tempo, tempo demais... acostumamos com o desespero pela FALTA,
e esse costume , quem sabe, nos impeça de ver (ou exigir) o fim
dela. Como se um inconsciente coletivo qualquer nos fizesse crer que
sempre vamos ter de aguentar uma boa dose de miséria.
Será que não é por isso que exageramos de maneira desmedida a valorização do ponto fora da curva?
Será que não é por isso que exageramos de maneira desmedida a valorização do ponto fora da curva?
Passamos a ver
aqueles que esbanjam talento, beleza, ou alguma outra coisa notável,
como uma espécie de herói.
Claro, é belo e
sublime esbarrar com algém que é super-hiper-fantasticamente bom em
alguma coisa, alguém capaz de fazer maravilhas com as palavras ou
com a música ou com as ideias ou com uma bola ou com o próprio
corpo... e ficamos tão maravilhados que não vemos que todas essas
coisas são brincadeiras que inventamos e que trazem, sim, cores e
felicidade para a aspereza do mundo. Mas são só isso!!!
E quem não
tem um talento especial em alguma dessas coisas que o clube da
humanidade valoriza?... é obrigado a dar tudo de si pra tentar e
tentar e tentar...?
O que?
Essa pergunta estava
martelando na cabeça do Sérgio de trinta anos atrás. E foi ele
que pegou tudo e transformou nesses traços e tintas aí:
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Pallas Atena
Lápis e Aquarela sobre papel
Gol. :)
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