O que eu aprendi foi mais ou menos assim, você cresce,
encontra uma pessoa especial que gosta de você e vice versa. Aí, juntos,
constroem uma casa, uma família, uma vida, enfim.
Que droga! Não quero ficar aqui fazendo papel de idiota
romântico, mas, caramba!, passei quarenta e poucos anos da minha existência
convivendo quase que diariamente com um casal irremediavelmente apaixonado, até
o último suspiro consciente do meu pai: quando entrou na UTI (da qual não
sairia mais com vida) pediu para o maqueiro retornar um pouquinho até a porta,
olhou pra minha mãe e disse com o que lhe restava de voz “eu te amo”. Depois de
aprender que sempre veria os dois de mãos dadas, andando, vendo televisão ou
sentados à mesa, ainda presenciei essa cena que, eu acho, vai ser eternamente a
minha definição de amor. Tendo testemunhado essas e outras milhares de
preciosidades, não havia muita chance mesmo de ser uma pessoa normal.
Vi e convivi com muitas e muitas outras duplas e parcerias
que não carregavam esse exagero quase fantasioso, mas não o suficiente pra
consertar minha visão de relacionamentos.
A imagem que lhes entrego agora foi a pintura que mais me
deu trabalho nessa vida. Nela eu fiz um enorme esforço pra enxergar além do
universo de carinho infinito que me construiu na infância, adolescência e boa
parte da idade adulta. Tentei misturar um pouco mais de ego e sordidez ao
amálgama que eu vi insistentemente se desenhando perto da perfeição. Coloquei um pouco
de mim, dos espinhos que já vieram comigo, mas mantive a esperança de preservar
a beleza das cores que me aquecem em qualquer noite de inverno.
Projetista
Óleo sobre Tela
90 x 110 cm
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