Nunca, nesses anos todos que já
somam quase cinquenta, experimentei qualquer estado de espírito que me fizesse
sentir longe da minha juventude (às vezes, tenho dificuldade em acreditar que
não estou ainda no final da adolescência). Mas, outro dia, com minha imagem no
espelho, vieram as palavras “Esses óculos e esse cabelo me mostram mais gasto e
fora do tempo”. Assim que o pensamento se espalhou pelos meus olhos, entendi
que se tratava de um sentimento inédito, uma novidade. Não que eu nunca tivesse
percebido o relógio andando, claro que eu percebi. Não sou tão doido. Mas a
noção plena e profunda de que a entropia vai me embalando por caminhos que
parecem inevitáveis não tinha sorrido com tal clareza, a ponto de fazer a
saliva mudar de gosto.
Na mesma hora subiu uma
palpitação-fibrilativa-taquicárdica num sobressalto de urgência: “Cara!
Levanta, carrega a vida e vai! Corre!”.
Tudo bem que prática de ficar
impassível diante do meu reflexo me impediu de surtar. Só que dessa vez não
dava pra guardar o pulso em nenhum esconderijo, tive que começar um movimento.
De verdade!
Sim, eu passei um bocado de tempo
alimentando minhas paixões com Lexotan. ®. Tanto é, que não tenho ainda o timing
pra mergulhar de cabeça, do jeito que o desejo exige. E, sim, foi preciso levar
um tombo feio pra caramba para a letargia, sempre tão presente, ir escorrendo
por aí, a ponto de agora só conseguir perceber dela alguns vestígios. Mas o
fato é que saltei para um plano vital que tinha ficado fora da mira por uma
eternidade. Que legal!
Pois então, é assim: pintar,
voar, estudar física e filosofia e arte para entender o mundo, ensinar,
desenhar e fazer poesia com isso tudo! Está quase difícil não sair atropelando
os passos feito louco...
É bom à beça ver que estou
próximo de ter que pedir “paciência!” (alguma, pelo menos) pra não derrapar em
demasia
e vâmo que vâmo!!
Autoavaliação
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
ResponderExcluirAté quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para
(Lenine)