quinta-feira, 20 de novembro de 2014

"After many a summer"

Nunca, nesses anos todos que já somam quase cinquenta, experimentei qualquer estado de espírito que me fizesse sentir longe da minha juventude (às vezes, tenho dificuldade em acreditar que não estou ainda no final da adolescência). Mas, outro dia, com minha imagem no espelho, vieram as palavras “Esses óculos e esse cabelo me mostram mais gasto e fora do tempo”. Assim que o pensamento se espalhou pelos meus olhos, entendi que se tratava de um sentimento inédito, uma novidade. Não que eu nunca tivesse percebido o relógio andando, claro que eu percebi. Não sou tão doido. Mas a noção plena e profunda de que a entropia vai me embalando por caminhos que parecem inevitáveis não tinha sorrido com tal clareza, a ponto de fazer a saliva mudar de gosto.
Na mesma hora subiu uma palpitação-fibrilativa-taquicárdica num sobressalto de urgência: “Cara! Levanta, carrega a vida e vai! Corre!”.
Tudo bem que prática de ficar impassível diante do meu reflexo me impediu de surtar. Só que dessa vez não dava pra guardar o pulso em nenhum esconderijo, tive que começar um movimento. De verdade!
Sim, eu passei um bocado de tempo alimentando minhas paixões com Lexotan. ®. Tanto é, que não tenho ainda o timing pra mergulhar de cabeça, do jeito que o desejo exige. E, sim, foi preciso levar um tombo feio pra caramba para a letargia, sempre tão presente, ir escorrendo por aí, a ponto de agora só conseguir perceber dela alguns vestígios. Mas o fato é que saltei para um plano vital que tinha ficado fora da mira por uma eternidade. Que legal!
Pois então, é assim: pintar, voar, estudar física e filosofia e arte para entender o mundo, ensinar, desenhar e fazer poesia com isso tudo! Está quase difícil não sair atropelando os passos feito louco...
É bom à beça ver que estou próximo de ter que pedir “paciência!” (alguma, pelo menos) pra não derrapar em demasia
e vâmo que vâmo!!


Autoavaliação

Um comentário:

  1. Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
    Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
    A vida não para
    (Lenine)

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