terça-feira, 20 de março de 2012

Mitos, Arquétipos e Lendas, todos na paz do Senhor


Não conheço uma criança sequer que despreze a chance de ouvir historias da Bíblia. Seja no Velho ou Novo Testamento, as passagens tem todos os elementos pra conquistar as mentes infantis. Heróis, Vilões, amores, batalhas e muita magia e fatos fantásticos. Bem, eu pelo menos adorava. Discutia com meus pais, meu irmão e, eventualmente algum amigo, incauto defensor de sua crença: “Poxa, então será que o Sansão era idiota?” ou “Depois que o Lazaro reviveu, nunca mais ficou doente?” ou ainda “No Diluvio, quem ficou responsável pela preservação das especies da América do Sul? E da Austrália, aquele monte de bicho esquisito?”. Minha cabeça fervilhava distante do fervor religioso. Nunca fomos frequentadores de igrejas, templos ou qualquer tipo de lugar dessa índole.

Uma vez, na escola onde eu fazia o curso primário, estávamos nós, aquele bando de pirralhos, formados pra entrar em sala, quando a Tia Fulaninha da Secretaria pegou a mão do primeiro da fila e foi desviando do caminho, dizendo que, naquele dia, tinha vindo um padre (reparem que era uma escola municipal, e não daquelas ricas de freira nem nada) e “a gente ia se confessar” antes da aula. Eu sei que nessa hora me bateu um baita desespero: “Que mané padre que nada! Eu não fiz coisa errada, não vou confessar droga nenhuma! Quem tivesse vacilado que se acusasse.”
Nisso, a Tia Marielena percebeu minha indignação e disse que não era obrigado a nada não, só quem tivesse feito Primeira Comunhão. Eu pensei “dessa me livrei!”. Quase gritando, falei pra professora “Não participei disso não, Tia, tô inocente na parada!”. Lembro que sai correndo da fila, pensando que quando fizesse a Primeira, ia tentar fazer sem Munhão.

Pois mesmo assim, apesar do abismo entre meu cotidiano e o formalismo religioso, as influências são muitas. Fiz vários desenhos e pinturas com temas bíblicos. Este, que deixo com vocês agora, foi cometido no século passado. Estava guardado sem o devido cuidado e, um dia quando que fui ver, tinha ficado todo oxidado e amassado. Na mesma hora, fotografei-o e guardei o arquivo em 'Meus Documentos'. Pura sorte! Menos de um mês depois, alguém que arrumava a minha casa pegou aquele papel enrolado (tamanho A2, ou coisa que o valha) e jogou no lixo pra nunca mais.  



Álbum de Família ou Deus com Adão e Eva
Desenho a nanquim com cerca de 80 por 60 cm, recuperado digitalmente a partir de uma fotografia

4 comentários:

  1. Sérgio,

    Gostei muito da sua iniciativa de compartilhar pela internet seus trabalhos artístico e suas visões. Espero que prossiga com tal.
    Também espero que possamos nos reencontrar em breve, para discutir sobre a Vida, o Universo e Tudo mais : )

    Abraços!

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    1. Puxa vida, Elisson, obrigado!
      E sim, sera um prazer discutir tudo e mais.
      Grande abraço!
      Sergio

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    2. O seu estilo de escrever é igual (ou quase) ao seu jeito de falar. Acho que isso é um elogio para qualquer escritor.

      Me identifiquei bastante com a sua forma de encarar a religião. "No século passado", quando eu tive religião, também nunca fui um tipo muito comum: tentava achar uma resposta o mais objetiva e racional possível para as coisas. De virgens e ressureições eu só via a poesia por trás. E mesmo assim continuava me dizendo "cristão". Acho que pelo visto o errado era eu, porque nenhum outro cristão gostava muito da visão que eu tinha destas coisas. A solução foi virar ateu.

      O desenho é muito bom. Que idade você tinha quando fez?

      Abraço!

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    3. Olá Icaro,

      Que bom ver você por aqui!
      Bem, quando fiz o desenho já tinha uns 22 ou 23 anos. Eu gosto muito da ideia de que ninguém precisa ser um crente fervoroso para apreciar a poética de tantos textos que remontam os mitos de cada cultura.
      Obrigado pelo comentário e pela presença.

      Abraço

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