Meu pai,
quando criança, foi muito, muito, muito pobre. Tinha um padrasto de
contos de fadas, ou pior, e era obrigado a trabalhar de verdade desde
os cinco anos pelo menos. Foi corajoso e forte, como só os pais e
mães sabem ser, e superou todos os abismos e barreiras para se tornar
uma das melhores pessoas que tive oportunidade de conhecer,
alcançando uma doçura quase inacreditável em vista da dureza
de sua vida. Não alcançou no entanto o deleite das artes. Esse foi
um mundo em que eu acho que nunca mergulhou. Foi ser militar da
Aeronáutica.
Meu pai
também não era cientista. Era, no entanto, um entusiasta da
ciência. Provavelmente, das ideias que ele dividia comigo na minha
infância, a que adotei com maior cumplicidade foi sua crença quase
religiosa no poder do pensamento cientifico, em sua capacidade de
compreender e modificar o mundo e, principalmente, resolver todos os
problemas da humanidade. Lembro que os primeiros livros que li, logo
depois de deixar minha condição de analfabeto, faziam parte de uma
coleção de divulgação de física para crianças e tinham os
títulos 'O Átomo' e 'Magnetismo'. Esse meu inicio como leitor, além
de me fazer parecer um extraterrestre aos olhos dos amigos da mesma
idade, foi obviamente preponderante nas escolhas que me conduziram 'a
carreira de Físico.
Esse
blablablá inicial não está aqui, de maneira nenhuma, para
apresentar as imagens postadas agora como representações dessa ou
daquela ideia cientifica. Cruz credo! Tem, isso sim, a intenção de
dividir com vocês um sentimento, ou uma fracão dele ainda presente
no trabalho aí de baixo, que nasce na cabeça de um menino de
cinco anos que vê maravilhado a beleza das ilustrações de Gustave
Dore para o livro de Fabulas de La Fontaine e, ao mesmo tempo, pensa
em como aquilo que ele segura, o papel e mesmo a tinta das gravuras,
se constrói com zilhões e zilhões de prótons, elétrons e
nêutrons.
Hubble
Desenho digital criado com TwistedBrush Open Studio
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