Penso
que a lista das coisas que acho belas é tão importante para me
definir quanto a lista das coisas que me irritam, mas, certamente, a
segunda vale muito mais na hora de decidir o que eu quero mudar em
mim. Nessa linha da mudança, coloco uma terceira (e mais central): a
lista das-coisas-que-me-envergonho-de-ter-feito. Pois então...
recordo muito bem a primeira vez que vi um quadro do Jackson Pollock
(o quadro do Pollock está na segunda lista). Olhei aquilo sem
nenhuma cumplicidade e disparei: “qualquer um pode pintar isso!”
(Sim, sim, essa frase está na terceira lista), mas o que falei logo
depois foi ainda pior: “não entendo como é que essa turma quer
pintar sem saber desenhar nem uma casinha!!” (também na terceira
lista).
Mesmo
lembrando que eu era muito jovem e estúpido, dá para perceber algo
aí...
Parece
que em arte, assim como em tantos e tantos ramos das criações
humanas, ficamos o tempo todo construindo cerquinhas e murinhos pra
regular a entrada seleta de quem vai fazer parte do clube.
“Não
dá pra todo mundo ser artista!” (terceira lista.)
Foi
então que há uns dias, nesses tempos intermináveis de sol, eu
estava na piscina do condomínio onde moro, conversando com um
vizinho sobre o meu trabalho como professor do CEFET. Falava da
necessidade de oferecer a todos os jovens uma escola como a minha e
blábláblá, blábláblá...
Meu
vizinho, de repente, me interrompe e fala: “mas cuidado aí!
Também, se todo mundo quiser ser bacharel, quem é que vai limpar o
chão?” Na mesma hora me virei para pegar uma vassoura e começar a
varrer, numa atitude exemplar, quando soou uma sirene interna
acionada por um ou dois itens das listas. Respondi só um “sei
não...”, botei a viola no saco e fui pra casa, antes de mais nada,
desencravar carunchos que insistem em fincar o pé nas minhas ideias.
#bravuraindomita
ou
Manual de barbearia do século XX
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