Ouvi outro dia: “Se
você quer ser aluno do CEFET, tem que ralar e correr atrás de
verdade. Não gostou, então vai lá pra FAETEC!” Era um professor
(colega meu na Celso Suckow) falando com alguns de seus alunos. A
verdade verdadeira mesmo é que (e confesso coberto de vergonha) se
nunca falei essa frase, já disse coisa muito semelhante, carregando
a mesmíssima mensagem. E isso tudo me deixou encasquetado por um
tempão: por que diabos eu falei barbaridades desse tipo, se não
acredito nelas nem um pouquinho? Pôxa vida! Será que não é obvio
e ululante que estão aí, pelo menos, duas ideias absurdamente
tortas?
A mais gritante pra mim
(por ser mais simplória mesmo) é essa doideira, que nos persegue a
todos, de ficar criando espaços VIP onde só os escolhidos ou muito
merecedores podem estar (e devem se orgulhar muito disso!). Caramba!
Como querer lutar contra a desigualdade no mundo sem atacar a loucura
na nossa própria visão elitista, presente até a raiz dos cabelos
em cada palavra do discurso do professor lá do início? Queremos
diminuir as diferenças e aumentar as oportunidades atiçando o
orgulho divino de quem conseguiu chegar no Olimpo? É isso mesmo??
“Ah, até agora vocês se mostraram bons o suficiente pra se
destacar daquela corja, mas se saírem da linha, voltam pra lá e vão
ter que chafurdar na lama novamente!” Cruz credo!
A outra é uma fonte
inesgotável de dor: a crença de que pra sermos felizes temos
primeiro que sofrer um bocado. Que droga! O Mundo já tem
complicações e problemas de sobra! Pra que ficar inventando mais
ainda? E o que é mais imperdoável, pra jogar tudo no colo de nossos
alunos à guisa de “treinamento”?
Pro Inferno!!! Repito:
Pro Inferno com esse raio desse treinamento!!! Não foi pra isso que
eu me fiz professor! Vi sempre tanta coisa maravilhosa que foi
pensada, imaginada, criada e construída por nossa espécie, que um dia
resolvi ajudar a mostrar um pouco dessa beleza pros outros e, quem
sabe, inventar com eles umas cores novas. E onde eu podia fazer essa
festa toda? Na escola, é claro!!
Acredito até o fundo
da minha alma que qualquer aluno, que a gente consiga levar em um
mergulho ao encontro dessas maravilhas, vai ser capaz de trilhar seu
caminho com competência, sendo feliz e pródigo no trabalho.
Nenhuma das pessoas
brilhantes que conheci ficaram assim pela ação do castigo e da
ordem disciplinadora, ou pelo sofrimento. Acho, isso sim, que
conseguiram ser o que são apesar dessas coisas todas.
Depois de dar muita
cabeçada e de visitar por tantas vezes esses caminhos
pré-programados da burrice, espero ficar atento pra evitar novos
escorregões, que se for pra colaborar com a estupidez, prefiro pedir
meu boné e ir ganhar o pão de cada dia em outras bandas.
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Sparta
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