domingo, 18 de maio de 2014

O Sombra sabe ou A sombra sobe?


O sonho é assim: eu estou indo com uma certa urgência e angústia para a frente do espelho. Quando me vejo, percebo que minha pele toda está coberta de espinhos, milhares deles. Acordo imediatamente, e o vislumbre foi muito muito rápido, mas fico impregnado por uma sensação de que estou fora da ordem ou que fui excluído da parte relevante do mundo, talvez, por ter frustrado espectativas de quem se aproximou e foi espetado. Tenho certeza de que esqueceram de me dar um aviso muito importante e que fatalmente vou perder alguma coisa.
É isso, ser inadequado é um dos meus pesadelos. Se não são espinhos, tenho plena consciência de que possuo cotovelos, joelhos e quinas contundentes em demasia. Por mais que eu busque a delicadeza, sei como é fácil ferir alguém no meu caminho por aí. Pior, a probabilidade maior é de acertar alguém que eu amo, e que, por isso mesmo, está por perto. Só pra citar um exemplo, fui surpreendido outro dia com o nível de preocupação que me assaltou ao ver minha filha de dezoito anos pondo água no fogo pra fazer miojo. É duro ver que o amor, sim, mesmo ele, pode se traduzir em ações nocivas, e conduzir a coisas como superproteção (ou sentimento de posse ou ciumes) que emperram o percurso mais pleno da vida de quem (logo daqueles) queremos cuidar com tanto carinho. Parece brincadeira (sim, é estúpido e me envergonho muito disso), mas nem sempre é claro pra mim o absurdo da loucura que se mostrou presente no episódio do medo-do-macarrão-fervente.
Nessa hora, preciso usar toda minha energia e mais um pouco para não ir para o extremo oposto, paralisar completamente as ações e movimentos, por constatar a capacidade de atingir olhos e lábios ao meu redor. Minha cabeça fica preenchida com a ideia de que podemos ser pesados de verdade, e não há maneira de um hipopótamo pular gentilmente no colo de quem quer que seja. Ficam sequelas e esmagamentos.
Respiro fundo e tento me encher de coragem para voltar a navegar, com atenção redobrada em manter o rumo e o prumo do barco. E sigo sussurrando minha prece: vamos, vamos... “depressa e devagar”...

Escolha
ou
#givemeakissandahug 

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