Passeando pela web, vi
uma fotografia do mar que envolve a costa do Rio de Janeiro. Nada
mais comum, se não fosse pela hora e meteorologia do momento do
click, final da tarde de um dia de chuva numa praia praticamente
deserta. Olhei aquilo e percebi que estava prestes a recuperar algo
que já tinha possuído. Esperei muito pouquinho até a lembrança
chegar: lá estou eu, com menos de vinte anos, hospedado com mais um
batalhão de amigos, numa casa de veraneio na praia do Peró. Assim
como na imagem da tela do computador, a luz do dia já se vai e
começa a cair uma chuva bem fininha, poeira de água. Todos voltaram
para casa, menos eu. Resolvi dar mais um mergulho na água que parece
agora feita de outra substância mais grave, como se ensaiasse uma
tentativa de virar mercurio. Afundo completamente, saindo do alcance
do som e da luz e no momento meu cérebro tem apenas o tato para
receber qualquer mensagem do mundo. Desse modo, fico com a impressão
de que tudo que sobrou da existência inteira se resume àquilo que
se passa na minha cabeça, e que se me esforçar um pouco, posso
realizar qualquer milagre e inventar todos os universos. Mesmo sem a
memória de tudo que pensei, sei que não foi o suficiente. O oxigênio
terminou antes da CRIAÇÃO. Passo a boiar de costas e recuperei a
visão. Habito um mundo em que o chão e o ar são feitos de água.
Os barulhos quase todos ainda ausentes dos ouvidos submersos. Nesse
momento é que eu noto o que está esquisito: houve uma inversão e
aquilo que os meus sentidos me dizem parece mais abstrato que as
ideias nascidas nas dimensões interiores. Começo a nadar
recuperando o desejo de apoiar os pés na areia e vou mirando as
luzes das casas na praia que ficou distante por culpa de alguma
corrente me levando mar adentro. Alcanço afinal um elemento sólido
e ando percebendo pela primeira vez (ao que recordo) que tenho ossos
e que eles me constroem. Caminho pra casa com uma expectativa muito
forte de que a qualquer momento posso flutuar.
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