Muitas vezes já vi
artistas, escritores e músicos falando de sua formação e, num certo
ponto da história, contam da época em que eram crianças, e que suas
casas eram povoadas ou visitadas por gente super importante do meio e
vêm coisas do tipo “via meu pai tocando com o Chico e o Caetano”
ou “o Drummond lia poesia pra mim toda vez que passava lá em casa
pra um cafezinho”. E aí fica bem clara a enorme importância que
essa convivência teve para as escolhas e caminhos seguidos na vida
deles e tudo mais.
Na minha infância,
nunca cheguei perto de ninguém que fosse influente no mundo da
cultura, da ciência ou de qualquer coisa desse tipo. Mas tive algo
semelhante a isso...nas reuniões de família que aconteciam na casa
da minha bisavó Anna (Nica) Sgarbi. Naqueles dias que pra mim eram
pra lá de especiais, os almoços eram festas de delícias
inesquecíveis, mas o que vinha depois ...ah, isso sim é que fazia
meu tempo ficar e ser: alguns tios e primos de segundo grau iam pra
varanda e ficavam conversando sobre coisas e mais coisas estrangeiras
ao meu mundo de dez-onze anos de idade. Falavam de política, assunto
perigoso para aquelas datas, de cinema, literatura, música. E eu
sorvia cada palavra tão quieto e atento como é possível alguém
ficar. E, sim, vejo diversos fragmentos de frases e ideias
recolhidas naquela varanda que estão pendurados em mim, aqui e ali,
até hoje. E seriam eles que estariam no meu depoimento, se algum dia
eu tivesse que fazê-lo aos moldes dos que citei lá no começo.
Eis (finalmente!) o que
queria dizer: que fico bastante tentado a definir uma conversa
perfeita como um encontro que reproduza aquele espírito trazendo pra
mim o entusiasmo de pensar e pensar e pensar. Esse é um tema
recorrente e já raspei por ele em outras postagens (“O Inferno são
os Outros?”). Mas vejo que dei voltas e mais voltas pra levantar um
falso testemunho, porque, nesse ponto, a porca torce o rabo e sou
obrigado a reconhecer que não é bem assim. Que fica faltando um
treco fundamental, mais profundo e precioso pra moldar a MINHA
CONVERSA PERFEITA. Esse elemento que veio em profusão no DNA dos
três filhos de meus pais: uma felicidade infinita que só se faz
presente pra mim e para meus irmãos se pudermos oferecer as palavras
com o peito completa e absolutamente aberto, vulnerável. Não tem
tanto a ver com a ideia que vamos dividir , mas com uma partilha de
si próprio. Chegar tão pertopertíssimo quanto possível e dar mais
um passo ainda. A gente treinou tanto isso, um com o outro, que se
não for assim, não tem graça, ou perde muito. É o
qualquer-coisa-que-não-sei-o-que nascido desse momento que eu não
troco por nada nesse mundo! Nessa hora, estou em casa.
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